Galego

Galego, 47 anos
Condenado a 65 anos de reclusão, já cumpriu 27 e não tem mais nenhuma expectativa de sair da prisão de forma natural, uma vez que ao final da pena estará - se ainda vivo - com 85 anos. Não confia na justiça e por este motivo guarda em segredo um plano de fuga.  Filho de pais dedicados, carinhosos e muito humildes, acreditou que poderia mudar de vida na cidade grande e foi em busca de seus sonhos. Tentou várias oportunidades e não obteve nenhum sucesso e para sua sobrevivência se submeteu a todo tipo de situação que lhe garantisse o mínimo possível para seu sustento. A sorte, no entanto, lhe reservava um destino ainda mais cruel e definitivo e ao chegar ao limite de suas forças, encontrou e acreditou em um caminho “aparentemente” fácil para conquistar uma melhor condição de vida, porém, tudo não passava de um grande erro. Em sua caminhada encontra e se alia há outro homem que vem a se tornar seu único “amigo”, o qual protagonizaria todas as influências negativas em sua mente já cansada, cega e ingênua. A partir desta união passou a praticar inicialmente pequenos assaltos, os quais foram se transformando em grandes delitos e assim era fácil alimentar a mentira diante de sua amada família de que tudo estaria bem. No entanto, tudo sai do controle quando em um assalto de grandes proporções há um banco mata algumas pessoas inocentes.  Diante desta realidade nua e crua, perde totalmente o controle de si mesmo quando em uma atitude impensada e beirando a loucura, mata esse “amigo” acreditando que desta forma se livraria daquele que o levou para o mundo do crime ao perceber seu estado de total fraqueza. Resolve então fugir para uma cidade pequena do interior para se esconder e toma a decisão de entrar para o Seminário na esperança de se tornar Padre e desta forma enterrar de vez seu passado. Porém, com toda sua inexperiência, deixa rastros dos seus deslizes e novos planos de vida e após um tempo foi denunciado, descoberto, preso e condenado e assim, viu todos os seus sonhos morrerem antes dele próprio e para sempre. Ele caiu para nunca mais se levantar. Na prisão se tornou um homem observador, um líder silencioso e de poucas conversas, não fala de segredos ou planos, não julgava ninguém, apenas esperava o “nada” ou o “tudo” e assim se mantinha vivo. Ao longo destes 27 anos foi conquistando o respeito de alguns companheiros de cela, mas não tinha amigos, apenas considerava uma pessoa confiável, um anjo que o acolheu também como anjo e mesmo sabendo que era mais um a ter momentos íntimos promovidos pela situação do isolamento havia muito respeito pela Grety Pisca, ela era autentica e seu abraço era acolhedor, sincero e de singular aceitação, não havia discriminação entre eles, o que foram ou o que fizeram no passado não importava, apenas eram o que eram na cela e isso entre eles bastava. Usava uma blusa cinza e surrada, uma bermuda preta, descalço, usava uma meia na cabeça e um velho terço no pescoço que havia sido dado por sua mãe e era o único objeto que o ligava há um passado quase esquecido pelo tempo. Era um homem que não permitia que a mente morresse diante do corpo já fadado a morte.

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