Grety Pisca
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Grety Pisca , 37 anos |
Extremamente inquieta. A vida lhe ensinou a não ter
medo. Ela não tem moral, honra, nem pudor. É quase um bicho. Violenta,
extremamente sexual e vulgar. Muito nova descobriu sua orientação de gênero.
Não foi aceita pela família. Não foi acolhida na escola. Aos 14 anos, encontrou
abrigo com seus pares: travestis que se prostituiam nas avenidas do Recife. Ali
encontrou a única forma de sobreviver: a prostituição. Seu ponto mais frágil e
ao mesmo tempo sua fortaleza era seu irmão gêmeo. Ele sempre a amparou. Nunca a
descriminou. Era como se fosse o seu lado humano, que lhe chamava à razão, que
lhe mostrava o que era amar. Sua única referência de amor sublime e puro. Ele
sempre a visitava nos pontos. Trazia presentes, roupas, comidas, dinheiro...
Carinho em forma de abraço. Com ele, ela estava feliz e completa. Mesmo na
marginalidade bestial, apanhando de cliente e correndo de grupo de extermínio de
travestis, ela se apaixonou por um Negrão, que também nutria um sentimento
recíproco por ela, mas que não a assumia. Ela deixava qualquer cliente por ele
e ele uma vez por semana vinha sedento pelos beijos e rebolados de Grety.
Tinha até semanas que ele passava todas as noites ao lado dela. Apenas as
noites... Se prostituiu por muito tempo. Batalhou em vários pontos: na Rua Floreano
Peixoto, na Av. Conde da Boa Vista, na Av. Domingos Ferreira e na BR 101
norte... Mas ela era um anjo, da noite, que desfaz o gosto do medo, do
preconceito, das acusações, que mostra que amor existe de todas as formas e com
todas as possibilidades. Um anjo que te abraça e te faz sentir vivo e
verdadeiro. Que dá a possibilidade de ser você mesmo, sem máscaras sociais ou
posturas que te rasgam a alma. Ela era um anjo que trazia a paz, de outros,
mesmo que por breves instantes... Ela era um anjo... Até ter suas asas cortadas
e cair...
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