Veio com seus pais do interior ainda pequeno para
morar na cidade grande, onde conheceu pessoas de teatro e se apaixonou por essa
arte. É um cara tímido que mesmo estando com a razão não gosta de convencer
ninguém sobre seu ponto de vista. Tem 50 anos de idade. Devido sua experiência
prática com teatro, porque nunca se formou academicamente, ele foi convidado
para dar aulas de teatro numa ONG para a terceira idade. Lá conheceu Dona
Florzinha, uma senhora alegre e dedicada de aproximadamente 75 anos. Como de
costume no final da aula D. Florzinha sempre saia por último porque gostava de
conversar com Gutierrez. Num certo, dia ele foi acompanhá-la até a porta, ela
tropeçou numa pequena elevação, se desequilibrou, puxou o braço do professor que caiu por cima dela, causando traumatismo craniano, seguido de morte. O ranzinza velho Heitor, apaixonado
por D. Florzinha e com muito ciúmes do professor, ouviu o barulho e chegou
imediatamente no local. Sem pensar saiu gritando e dizendo que o professor
tentou estuprar a senhora, derrubando-a violentamente. Todos chegaram e encontraram
o professor sem ação ainda em cima da velha senhora. Gutierrez foi julgado e
condenado. Não fez menor esforço para convencer as pessoas de sua
inocência. As únicas palavras em seu julgamento foram "Eu sei da
minha inocência. Mas vocês são livres para acreditarem ou não. Façam o que
achar melhor e mais cômodo para a sociedade. Afinal de contas é minha palavra
contra todos os alunos. Mil olhos veem melhor que apenas dois” E calando-se não
respondeu mais nenhuma pergunta e nem falou mais nenhuma palavra. Rasgou a sentença e não falou mais no assunto. Não faz ideia de quando
vai sair, nem quanto tempo lhe resta. Gosta muito de ler livros de artes. Gosta
de vestir-se como aqueles diretores antigos que via nos filmes de artes, mas sua
elegância é precária com terno surrado, um chapéu de pano, bermuda e sandálias. Nunca recebeu visitas de familiares, pois não acreditam na
sua inocência.
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