O Tatuador


O Tatuador, 50 anos
José dos Anjos, o Zé ou o vovô. Com 1,68 e 90 kg, tem o humor que vai da apatia a euforia rápida. Não têm parentes. Veste-se sempre com camisas de malha e de mangas compridas, escuras; bermudas grandes, aparente desleixo. Tem como hábitos ser dúbio, às vezes fica pelos cantos, quieto, silencioso, parece às vezes falar consigo mesmo. Noutras horas fica inquieto, mudando de lugar todo o tempo, cantarolando pra si mesmo, fica “aceso” e parece ter prazer em se furar tatuando-se. Da mesma forma que passa dias sem comer, noutros come tudo o que aparecer inclusive não dando vez aos outros. Mas não entra em brigas físicas. É Branco, ensino médio, às vezes arrogante por achar-se mais “inteligente” que os outros. Mas é cheio de auto piedade, se acha um covarde por (segundo ele) não conseguir matar. Carrega um ódio represado que não consegue transformar em brigas ou violência física clara. É uma bomba pronta pra explodir. Ele acredita que tatuando o nome das pessoas em seu corpo elas estarão sempre com ele. Promete-se todo dia que vai encontrar um jeito de vingar todos que perdeu e todo dia se julga incapaz. Seu maior desejo é destruir tudo: celas, guardas, presos, a prisão, a cidade... Ele quer queimar o mundo, porque o mundo é o inferno. Ele quer matar tudo o que vê. Acredita que não pode gostar de mais ninguém, nunca mais.  É ele quem esconde os fósforos, e é ele que vai começar o incêndio que vai acabar com tudo.


... eu me furo quase todo dia, as vezes passo dias me furando... o sangue sai e a tinta entra...  estou quase todo marcado,já me falta espaço. Teve lugares que mandei fazer,não alcançava,  mas gosto de eu mesmo me tatuar. Desenhos não, só os nomes. A dor na carne, faz com que a dor na alma pareça menor, dói, mas alivia...alivia, mas continua doendo sem fim - sou meio grego,acredito que morrer é descansar, e não mereço descanso. Me fazem sofre? me faço sofrer mais. E eu não abro mão: trago todos comigo, em mim, pra sempre. Só os tiram de mim se me tirarem a pele. Não gosto que me falem, não gosto de movimento;deixem-me no meu canto, vamos todos pro inferno mesmo! "Ou vão pro inferno sem mim,que maçada quererem que eu seja da companhia." Tenho companhia bastante inscrita em mim. Cada nome que imprimo no meu corpo, dói, dói muito... sou um caderno com todas as páginas inscritas, um livro dos mortos... quando me tatuo  sinto-me bíblico : "ouviu-se em Ramá pranto e lamentação, era Raquel chorando por seus filhos e não querendo ser consolada, porque eles já não existem!"

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